A situação atual do mundo 
     
     
     
    1. Desde o colapso do sistema de taxas de câmbio
    fixas estabelecido em Bretton Woods, o mundo tem testemunhado uma série de crises
    financeiras, sendo a mais recente a do Sudeste Asiático. Embora o Conselho de InterAção
    acredite que há várias medidas que precisam ser tomadas para reduzir os riscos de crises
    financeiras, nenhuma delas terá êxito no longo prazo se não houver uma relação mais
    estável entre as principais moedas. A especulação monetária acarreta um risco real
    para a estabilidade do sistema financeiro internacional. 
     
     
    2. A Crise do Sudeste Asiático pôs também em relevo o fato de que, numa economia
    globalizada, já não basta ter os fundamentos econômicos corretos. As economias
    asiáticas desfrutavam de bom equilíbrio fiscal, política monetária judiciosa, e
    abertura para o exterior, além de altas taxas de poupança. Numa economia globalizada,
    porém, é preciso dar muito mais atençáõ às questões de transparência, boa
    governança corporativa e uma separação adequada entre política, empresas e bancos. 
     
     
    3. Na seqüela da crise, o Conselho insta os membros do G-7, que se reunirão em
    Birmingham, ainda este mês, a fortalecer a capacidade de supervisão e de alarme em tempo
    hábil do Fundo Monetário Internacional e estudar seriamente medidas para reduzir os
    riscos associados com os fluxos de capitais de curto prazo, especialmente para os países
    em desenvolvimento. O Fundo Monetário Internacional precisa também ser mais transparente
    em suas atividades e ajustar suas recomendações às realidades políticas, sociais e
    econômicas vigentes nos diferentes países. 
     
     
    4. Mas as instituições internacionais sozinhas não podem arcar com a tarefa de
    supervisão. Os governos e bancos centrais precisam desempenhar um papel muito maior na
    vigilância e supervisão das atividades das instituições financeiras privadas. As
    instituições privadas também têm a responsabilidade de uma administração judiciosa
    de seus ativos e passivos e de divulgar informação. 
     
     
    5. Os governos também deveriam estudar a criação de um fondo passível de ser
    mobilizado para prevenir crises monetárias em economias emergentes. Esse fundo poderia
    ser constituído de reservas cambiais mantidas pelos países de região. Consultas
    inter-regionais muito mais intensas e a pressão dos pares também poderiam ajudar e
    evitar futuras crises. O Conselho reconhece que a determinação da China em não
    desvalorizar o yuan muito contribuiu para a contenção da crise. 
     
     
    6. O Japaõ corre o risco de causar maior dano às estruturas econômicas do mundo
    do que qualquer coisa que já vimos na Ásia. O Japão precisa estabilizar seu próprio
    sistema financeiro, implementar programas eficazes de recuperação e desregular a
    economia suficientemente para dinamizar a demanda e suas importações de região. 
     
     
    7. O Conselho acolhe calorosamente a adoção histórica de euro. Nunca, na
    história da humanidade, um grupo de países voluntariamente abriram mão de tais poderes
    a favor de uma entidade supranacional. O Conselho acredita que o euro rapidamente se
    imporá como uma importante moeda de reserva e que será usado cada vez mais em
    transações privadas, contribuindo para a estabilidade do sistema finaceiro global. 
     
     
    8. A pesar do enorme progresso alcançado no desenvolvimento econômico e humano
    nos últimos 50 anos, demasiadas pessoas ainda não estaõ usufruindo os beneficios do
    crescimento econômico. Três bilhões de pessoas continuam a viver com menos de dois
    dólares por dia; 1.3 bilhão de pessoas ainda não têm acesso a água pura. Em todo o
    globo, os gastos militares solapam a luta contra a pobreza. Em 1995, os gastos militares
    no mundo totalizaram quase 800 bilhões de dólares. O Conselho insta os membros do G-7 e
    outros grandes exportadores de armas a restringir a produção e venda de armas. O impacto
    adverso que isso poderia ter sobre o emprego não pode ser usado como excusa para a falta
    de ação. 
     
     
    9. O Conselho estima que a Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA) não
    deveria ser concedida a países que: a) gastam mais com o aparato militar do que com
    educação e saúde combinadas e b) não tomam medidas enérgicas para melhorar a
    educação de jovens e mulheres nem propiciam acesso a serviços de planejamento familiar. 
     
     
    10. Em vista da crescente importância política e econômica de economias fora de
    região euro-atlântica, o Conselho insiste que a Rússia e a China sejam admitidas
    imediatamente como participantes plenos do G-7. A admissão da China à
    Organização Mundial do Comércio (OMC) precisa ser também agilizada. Além disso,
    outros grandes países deveriam ser progressivamente incluídos como participantes do G-7,
    à medida que seu impacto sobre a economia global aumentar. 
     
     
     
     
    Problemas e perspectivas da América Latina 
     
     
     
    11. O Conselho endossa o Relatório do Grupo de
    Trabalho de Alto Nível, presidido por Miguel de la Madrid Hurtado, sobre a América
    Latina: Equilíbrio e Perspectivas, Progresso, Dificuldades, Desafios. 
     
     
    12. A partir da década de 80, a América Latina tem registrado avanços
    importantes na criação de mecanismos democráticos formais. Em muitos casos, porém, a
    democracia permanece superficial: as instituíções democráticas são frágeis e a
    exclusão social campeia. A educação da sociedade civil nos papéis e responsabilidades
    da democracia são um prérequisito da governança democrática bem-sucedida. 
     
     
    13. Os países da América Latina estão fazendo esforços para recuperar as taxas
    de crescimento anteriores à crise econômica da década de 80. Em muitos casos, porém,
    isso tem resultado em ineqüidade, degradação do patrimônio ecológico e mais
    desemprego. Como região, a América Latina tem a pior distribuição de renda do mundo, o
    que ameaça a estabilidade social e tem levado a um aumento da violência em todo o
    continente. O desafio para a América Latina é equilibrar competitividade e eqüidade
    social. 
     
     
    14. A Educação é crucial para o desenvolvimento econômico de região. O
    Conselho acolhe calorosamente o Comunicado da Cúpula das Américas e sua ênfase na
    educação e insta a região a fortalecer seus processos educacionais em todos os níveis. 
     
     
    15. O Conselho incentiva também a contínua integração das atividades
    econômicas, demostrada pelo Mercosul, e nota o progresso já alcançado: 95% do comércio
    entre os quatro membros agora gozam de alíquota zero e o comércio entre os membros
    quadruplicou, como também aumentou o volume total de comércio. 
     
     
    16. Persistem, contudo, problemas demográficos. Apesar do progresso notável na
    redução das taxas de crescimento da população, ainda existe um sério desequilíbrio
    entre o número de pessoas e a capacidade de economia de propiciar emprego e dos governos
    de prestar serviços sociais. 
     
     
     
    Declaração Universal das
    Responsabilidades Humanas 
     
     
     
     
     
    17. Num mundo transformado pela globalização,
    tornam-se imprescindíveis padrões éticos comuns como base para o convívio num mundo
    cada vez menor. Com vistas a atender a essa necessidade, o Conselho de InterAção
    elaborou, em setembro de 1997, um projeto de Declaração Universal das Responsabilidades
    Humanas como parte de uma busca, ao longo de dez anos, de padrões éticos universais que
    fossem obrigatórios moralmente - ainda que não legalmente. 
     
     
    18. A Declaração tem recebido o apoio entusiasta de um amplo espetro de
    personalidades proeminentes, organizações e alguns governos. Porém, algumas ressalvas
    têm sido levantadas, no sentido de que o documento ele solaparia a Declaração Universal
    dos Direitos do Homem ou incentivaria a imposição de controles à liberdade de imprensa. 
     
     
    19. Ao contrário, a Declaração das Responsabilidades visa a reforçar a
    Declaração dos Direitos Humanos. Direitos e Responsabilidades são inseparáveis. Além
    disso, o Conselho acredita firmemente que nenhuma autoridade externa deve controlar a
    mídia, que deve regular-se a si própria. 
     
     
    20. O Conselho insta todos os governos a endossar a Declaração para debate nas
    Nações Unidas. Trata-se de uma questão que merece o mais amplo diálogo e debate
    público, especialmente na sociedade civil. 
     
     
    21. A Península Coreana continua nas garras da Guerra Fria. Dez milhões de
    famiílias separadas não têm permissão nem de se comunicar entre si. O Conselho insta
    os líderes das duas Coréias a permitir que essas famílias separadas possam pelo menos
    comunicar-se, como um primeiro passo rumo a uma solução pacifica para a tragédia da
    Península. 
     
     
    22. Ao reunir-se no Brasil, o Conselho deplora a ausência de dois de nossos
    membros - Olusegun Obasanjo, da Nigéria, e Kenneth Kaunda, da Zâmbia - detidos pelos
    respectivos governos por motivos políticos. Uma vez mais, o Conselho insta a comunidade
    internacional a exigir que sejam postos em liberdade. 
     
     
     
     
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    PARTICIPANTES DA 16a SESSÃO 
     
     
     
     
    Membros 
     
     
    Helmut Schmidt, Chanceler da República Federal da Alemanha, 1974-1982 
     
    Andries A.M. van Agt, Primeiro-Ministro dos Países Baixos, 1976-1979 
     
    Oscar Arias Sanchez, Presidente da Costa Rica, 1986-1990 
     
    Miguel de la Madrid Hurtado, Presidente do México, 1982-1988 
     
    Malcolm Fraser, Primeiro-Ministro da Austrália, 1975-1983 
     
    Kurt Furgler, Presidente da Confederação Suíça, 1977,1981,1985 
     
    Kiichi Miyazawa, Primeiro-Ministro do Japão, 1991-1993 
     
    José Sarney, Presidente do Brasil, 1985-1990 
     
    Pierre Elliott Trudeau, Primeiro-Ministro do Canadá, 1968-1979, 1980-1984 
     
    Ola Ullsten, Primeiro-Ministro de Suécia, 1978-1979 
     
     
    Convidados Especiais 
     
     
    Persio Arida, Ex-Presidente do Banco Central do Brasil 
     
    Jack Austin, Senador do Canadá 
     
    Roberto Campos, Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro, Brasil 
     
    Vigdis Finnbogadóttir, Ex-Presidenta da Islândia 
     
    Helio Jaguaribe, Professor, Instituto de Estudos Políticos e Sociais, Brasil 
     
    Song Jian, Vice-Presidente da Comissão Nacional da Conferência Consultora da República
    Popular da China 
     
    Lee Seung-Yun, Ex-Primeiro Ministro Adjunto e Ministro da Diretoria de Planejamento
    Econômico da República da Coréia 
     
    Robert S. McNamara, Ex-Presidente de Banco Mundial  
     
    Sergio Mota, Coordenador-Geral, Fondo de Cultura Económica, México 
     
    Rhee Seung-Keun, Professor, Universidade Católica da Coréia 
     
    Antonio Olinto, Professor e escritor 
     
    J.J.N. Rost Onnes, Vice-Presidente Executivo, ABN AMRO Bank, Países Baixos 
     
    Paulo Paiva, Ministro de Planejamento, Brasil 
     
    Ruy Pereira, Representante do Ministério da Industria, Comércio e Turismo, Brasil 
     
    Paulo Rabello de Castro, Presidente do Instituto Atlântico 
     
    João Paulo dos Reis Veloso, Ex-Ministro de Fazenda, Brasil 
     
    Seiken Sugiura, Membro da Câmara de Deputados, Japão 
     
    Vadim Zagladin, Diretor, Fundação Gorbachev 
     
     
    Jornalistas Convidados 
     
     
    Flora Lewis, International Herald Tribune 
     
    Elio Gaspari, O GLOBO 
     
    Merval Pereira, O GLOBO 
     
    Nagaharu Hayabusa, The Asahi Shimbun 
     
     
    Secretário-Geral 
     
     
    Isamu Miyazaki, Ex-Ministro de Estado, Agência de Planejamento
    Econômico do Japão 
     
     
     
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